Veterinário relata rotina de mais de 12h para salvar animais no Pantanal: ‘Ainda não é suficiente’

orge Salomão é de Jundiaí (SP) e percorreu mais de 1,6 mil quilômetros até a cidade de Poconé (MT). Lá, ele faz parte de uma equipe de voluntários que trabalha dia e noite para salvar animais vítimas das queimadas.

19/09/2020 12h36  Atualizado há 6 horas


Veterinário de Jundiaí (SP) ajuda no resgate de animais vítimas das queimadas no Pantanal — Foto: Arquivo pessoal

Veterinário de Jundiaí (SP) ajuda no resgate de animais vítimas das queimadas no Pantanal — Foto: Arquivo pessoalhttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

O cenário de devastação é algo que Jorge Salomão vai se lembrar para o resto da vida. O veterinário de Jundiaí (SP) percorreu mais de 1,6 mil quilômetros até a cidade de Poconé (MT) para atuar como voluntário no resgate de animais afetados pelas queimadas históricas que atingem o Pantanal brasileiro.

Em meio ao fogo e à fumaça, ele e uma equipe de veterinários, ativistas e biólogos percorrem as áreas destruídas em busca de animais sobreviventes.

“Começamos todo dia de manhã e paramos somente à noite. Estou nessa rotina há mais de 20 dias e não pretendo parar tão cedo”, conta.

Jorge trabalha há quase 15 anos com animais silvestres, entre eles, principalmente, a onça-pintada. A espécie, ameaçada de extinção, é considerada o maior felino das Américas e luta pela sobrevivência em meio às chamas que consomem o Pantanal.

Onça-pintada foi resgatada no Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal, na última sexta-feira (11) — Foto: Ministério da Defesa/via BBC

Onça-pintada foi resgatada no Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal, na última sexta-feira (11) — Foto: Ministério da Defesa/via BBC

No domingo (13), Fantástico mostrou um dos resgates da equipe de Jorge. Ele realizava buscas pelo Parque Estadual Encontro das Águas quando avistou Ousado, uma onça pintada que costumava ser conhecida na região por se aproximar dos barcos.

O felino estava caído e com as patas queimadas. Ele apresentou postura agressiva e precisou ser anestesiado para que fosse retirado do local. Depois, foi levado até um hospital veterinário em um helicóptero da Marinha.

“É um cenário devastador. Acho que é uma cena que eu jamais vou esquecer. Isso jamais vai sair da minha cabeça. Estamos encontrando muitos animais desidratados e com fome”, relata.

Voluntários do interior de SP enfrentam fogo e fumaça para resgatar animais feridos nas queimadas do Pantanal — Foto: Arquivo pessoal

Voluntários do interior de SP enfrentam fogo e fumaça para resgatar animais feridos nas queimadas do Pantanal — Foto: Arquivo pessoal

Ajuda voluntária

A rotina é árdua. Jorge explica que os voluntários passam o dia todo vasculhando a área atingida pelo fogo em busca de sobreviventes. O calor e a fumaça não os impedem de levar ajuda para aqueles que não têm para onde fugir.

“Fora os resgates, também estamos montando cochos de água em certos locais para que esses animais possam se hidratar e deixamos comida também. Nessa situação, eles não têm para onde ir, não têm o que comer e nem água para beber”, diz.

Queimadas anuais no Pantanal (2005-20)Recorde anterior, de 2005, foi ultrapassado três meses antes do fim do ano; alta é de cerca de

A mobilização de ativistas, veterinários e biólogos se espalhou por todo o país. No interior paulista, além de Jorge, uma equipe da Associação Mata Ciliar saiu também de Jundiaí rumo às queimadas.

Cristina Harumi, coordenadora da Associação Mata Ciliar em Jundiaí (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Cristina Harumi, coordenadora da Associação Mata Ciliar em Jundiaí (SP) — Foto: Arquivo pessoal

O grupo, coordenado por Cristina Harumi, partiu do interior paulista na madrugada de quarta-feira (16).

“Estamos levando toda a ajuda possível. Sabemos que somos apenas um grão de areia no meio desse deserto de devastação, mas precisamos unir forças para amenizar a dor dessa perda tão imensa”, diz.

5 pontos sobre as queimadas no Pantanal

5 pontos sobre as queimadas no Pantanal

Por meio de campanhas nas redes sociais, a associação levanta fundos para a compra de medicamentos e ferramentas que ajudam no trabalho de salvamento.

“Nós recebemos muita ajuda de apoiadores e pessoas que estão sensibilizadas com essa causa. Das autoridades, não recebemos nada”, explica.

Onça com as patas queimadas recebe cuidados de uma equipe de veterinários — Foto: Arquivo pessoal

Onça com as patas queimadas recebe cuidados de uma equipe de veterinários — Foto: Arquivo pessoal

A esperança em conseguir ajuda das esferas maiores foi algo que deixou de passar pela mente de Jorge há alguns dias também. O reforço de colegas de profissão é o que faz o grupo manter o trabalho durante todo esse tempo.

“Tudo que foi e está sendo feito não é suficiente. Já queimou grande parte e, infelizmente, o que não queimou ainda vai queimar. Esperamos que, com essa tragédia, ano que vem as atitudes sejam diferentes, que trabalhem com preventivo”, afirma o veterinário.

Focos de incêndio no Pantanal em setembroNos primeiros 16 dias, o recorde anterior para o mês, registrado em 2007, foi ultrapassado; média histórica é de 1.944 focosFocos de incêndio

Queimada histórica

O fogo que avança com rapidez pelo Pantanal é considerado um dos mais devastadores da história do bioma. No mês de setembro, até o dia 16, foi registrado omaior número de queimadas desde o início do monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998.

Foram 5.603 focos de calor detectados em apenas 16 dias, contra 5.498 registrados no mês inteiro de setembro em 2007 – o recorde para o mês até este ano.

Voluntários fazem o resgate de animais no Pantanal — Foto: Arquivo pessoal

Voluntários fazem o resgate de animais no Pantanal — Foto: Arquivo pessoal

Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), já são mais de 2,3 milhões de hectares atingidos por queimadas.

O número representa mais de 20% de toda a extensão do bioma no Brasil, conforme o Instituto SOS Pantanal. A área queimada corresponde, por exemplo, ao equivalente a mais de 10 vezes as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo juntas.

Nuvens de fumaça são vistas enquanto as árvores queimam entre a vegetação durante incêndio no Pantanal — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Nuvens de fumaça são vistas enquanto as árvores queimam entre a vegetação durante incêndio no Pantanal — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Em números gerais, o Pantanal tem cerca de 2 mil espécies de plantas, 580 de aves, e 280 de peixes, 174 de mamíferos, 131 de répteis e 57 de anfíbios. O número de invertebrados é desconhecido. O bioma também é refúgio para espécies ameaçadas de extinção que vivem em outras regiões.

Há cerca de dez dias, um grupo de representantes de órgãos públicos do meio ambiente, universidades, organizações não-governamentais e voluntários se uniram em uma força-tarefa para tentar fazer uma estimativa do número de animais mortos pelas queimadas.

Vídeos das queimadas no Pantanal

20 vídeoshttps://audioglobo.globo.com/widget/widget.html?podcast=702&color=C4170C

*Com informações de Gustavo Netto/TV TEM.

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