Professora monta rede de entregas por bicicletas só com mulheres e trans

Projeto que nasceu em um momento de crise emocional, busca criar um espaço mais humano para mulheres e trans que trabalham com delivery 

Foto: Divulgação

As bicicletas fazem parte da vida de Aline Rieira desde pequena. Formada em artes visuais pela Universidade de São Paulo (USP), Aline se arriscou no mundo do empreendimento com o Selim Cultural, um passeio de bike pela cidade de São Paulo para mostrar aspectos históricos e culturais.

No entanto, foi em 2015 que as coisas mudaram. Aline passou por um divórcio traumático, o que a levou a terapia. Foi saindo de uma das sessões que ela viu um entregador de bicicleta e por impulso parou o rapaz. Ela questionou se aquilo rendia.

Apesar do rapaz informar que ganhava menos de um salário mínimo, Aline chegou a conclusão de que dava conta se juntasse com o salário de professora que recebia em uma universidade privada.

Assim, ela foi atrás de uma empresa de bike-Delivery que aceitasse Freelancers, dando inicio a sua carreira como entregadora, pedalando cerca de 90 km por dia.

Essa escolha rendeu diversos questionamentos por parte de amigos e de familiares. A questionavam se ‘havia estudado tanto para acabar assim’, mas para Aline a bicicleta foi um caminho para deixar a depressão.

Um ano depois, uma nova guinada ocorreu em sua vida. Ela iniciou um novo relacionamento e um novo emprego no estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson.

Junto ao namorado, Aline passou a pensar em ter o próprio negócio, mas focando em mulheres e pessoas trans. Aline via a dificuldade da irmã, que é mãe solo, em conseguir se realocar no mercador, assim como a de amigos LGTBQ+.

Além disso, Aline sentiu na pele como o ambiente de empresas de delivery em bicicleta podem não ser confortáveis para mulheres ou para pessoas da comunidade LGBTQ+, por priorizem um espaço extremante masculinizado.

Em entrevista para o portal Universa, Aline contou que “O homem sempre olha para a mulher ou para o gay pensando que não vão dar conta de pedalar tanto ou de consertar a bike se necessário”.

Senõritas Courier

Foi no estúdio em que trabalhava que o projeto saiu do papel. Ela realizava as entregas, além de cuidar do acervo e da pesquisa fotográfica. Foi durante uma destas entregas que ela não iria conseguir realizar, que Aline recorreu ao Facebook.

Na rede social, ela disse que gostaria de conhecer mulheres que dessem conta de fazer as entregas que ela não poderia realizar. Dez amigas responderam. Depois disso, veio um grupo no WhatsApp, batizado de Senõritas Courier. O grupo foi crescendo, e já conta com 21 bikers, dois não-binários, um homem trans e 18 mulheres, e as entregas vão sendo divididas.

O serviço já está na ativa há um ano, mas ainda tem poucos clientes. O Estúdio Bob Wolfenson ainda é um dos principais apoiadores devido a demanda de entregas de documentos.

São realizadas principalmente entregas de flores e de pequenos volumes. Entregas de volumes maiores precisam ser agendadas com antecedência.

O Senõritas funciona como um coletivo informal em busca de investidores. Aline avalia que precisaria de R$ 100 mil para conseguir aumentar o número do pessoal que atua no projeto e desenvolver um app para aumentar a área de atuação.

Atualmente, é possível agendar as entregas pelo Instagram ou Facebook. Os entregadores ficam com 70% do valor cobrado (uma média de R$ 3 por Km). O serviço só atende a cidade de São Paulo.

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